Que fazer quando já não sobrou nada para cuspir
E se espera pela Primavera
como pela próxima vida
Num beco sem saída entre muitos anos e outros tantos
Arrependimentos, cada verso é apenas um pedaço de
saudade
Em segunda ou terceira mão, gasto e esquecido do
cheiro original
Daquelas primeiras noites de Primavera, mais vale
atirar
O desejo como uma toalha já seca do esforço vazio por
sonhos
Com o mesmo recheio, se não se tiver pena, podem
rasgar-se
As saudades até ao osso só para sentir brevemente o
aroma
Das camélias no olival vizinho, e lá vai aquele cheiro
Ser encaixado entre três versos, como se fosse
possível guardar
Nas palavras o que as papilas nos pedem,
desconhecedoras
Da mortalidade de todos os momentos e sempre tão
certas
De que o que nos revelam é o verdadeiro sentido da
vida.
Turku
14.03.2016
João Bosco da Silva
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