Já reparaste bem nas estátuas de Berlim, crivadas de buracos
de bala, apontando
Com o coto de um braço ou uma mão sem dedos, decapitadas
algumas,
Alguns buracos à altura da cabeça de um homem, enormes
pedaços de pedra
Arrancados pela violência, não me impressionou tanto a majestosidade
Daquelas colunas com pequenos quadrados de pedra mais clara,
por todo lado,
Nem o fascínio dos conterrâneos pelos supercarros ao passar
pela galeria
Onde estava o Mural de Jackson Pollock, a ideia de uma
cidade dividida
Em dois por esquerda e direita, custou-me, mas não tanto
quanto aquelas estátuas,
Aquelas famílias de carne, cujas marcas nunca sararão, as
mãos serão dores fantasma
Na memória colectiva, tanta violência contra a inocência,
que culpa teriam as estátuas
Para merecerem aquelas balas, aquele desejo de morte, aquele
ódio contra a pedra,
Contra os nomes, no fim, quando já não há sangue para
alimentar os impérios
E por fome eles caem, o que fica são as pedras e foram
tantos e foram todos,
O sangue secou, a chuva lavou-o, só as marcas ficaram nas
estátuas, nos muros,
E na memória dos que não tombaram, mesmo que sem um braço,
tantas vezes
Sem cabeça, à sombra das árvores de um parque que floresce
no meio da cidade,
Quando lá voltares, olha-as bem de perto, olha-as nos olhos
e vê, as marcas das balas.
09.04.2016
Turku
João Bosco da Silva
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