Segredo Esmeralda
Podia falar-te daquelas manhãs à beira da última cerveja da
noite,
A apagar cigarros à chuva com uns desconhecidos apaixonados
pela insónia,
Podia contar-te da aspereza dos sofás alheios nas nádegas
brancas
E daquelas púbis arruivadas que não contavam com o mergulho
de barba,
Podia revelar-te ainda a idade em que os anos deixam de
passar e passam a desabar,
Mas eu sei o que queres realmente saber, o segredo do meu
olhar,
O brilho por trás do dente canino pronto à perdição da
carne,
Pois bem, enquanto o Sol se punha, sentava-me na mesa da
cozinha
E escrevia poemas ao ritmo das trindades, enquanto olhava o
horizonte
Pela janela com a luz a bater-me nos olhos e da porta aberta
Sentia o cheiro da terra a arrefecer, o meu pai rachava
lenha
E pelo alvoroço a minha mãe escolhia uma galinha para o
jantar
E dos dedos saíam-me versos sobre saudades futuras e
amanheceres
Longe dos olhos que à noite se fechariam,
Adormecendo depois do
ladrar do último cão vadio.
04.04.2016
Turku
João Bosco da Silva
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