Chuva, Papel e Outras Fronteiras
“a escrita seria, ouça,
silenciosa,
como os passos claros
da neve,
o frio
aroma dos sentidos.”
António Franco
Alexandre
Enquanto leio um livro velho, com cheiros de décadas
impregnados no
Papel, a chuva cai lá fora e nos versos cinzentos das
páginas amarelecidas,
Então ouço uma motosserra distante, rasgando a carne de um
eucalipto,
O serrim torna-se numa polpa húmida aos pés do meu pai
abrigado
Dentro do baixo da casa, quando a corrente pára o vento traz as vozes
Dos vizinhos espanhóis, o poema termina e no ar que a página
empurra
Surge antes do primeiro verso aquele casaco de bombazina castanho
Que cheirava a outono, atrás da porta do quarto onde dormia,
Então também nos olhos
cai a chuva e nas mãos que sentem no papel fino
A vida toda, com ou sem palavras, a motosserra continua até
o cepo cair,
Vencido como os olhos que sentem o que não veem e aceitam
A derrota do tempo como a chuva que nunca mais cessará.
Turku
17-04-2016
João Bosco da Silva
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