Escrevo-te Da Montanha
Escrevo-te da montanha onde todas as madrugadas se encontram
E os sonhos são pedras que tocam o impossível,
Onde o vento é um deslumbramento da alma, a alma possível
Nos raios de Sol que amanhece e traz vida à vida,
Onde os corvos esperam pelo abandono e o esquecimento,
Por isso te escrevo e eles batem asas em direcção ao mar
Onde por vezes adormecemos e com sorte renascemos
Todas as manhãs com o sal de uma pele morena
Nas papilas cansadas dos dias vazios,
Daqui te escrevo, trasmontano, amigo, amante, carne
universal,
Em comunhão com o vento dos tempos,
Escrevo-te da pedra com a delicadeza possível de uma
primavera,
Sem medo ou vergonha porque ambos conheceremos a morte
E sabemos do amor e outras indelicadas erupções do desejo,
Escrevo-te sem fome ou sede, nada mais que um arauto dos
sentidos,
Escrevo-te neste instante no extremo oposto à criação e
saúdo-te
Amigo, amante, carne universal desde a montanha
Que é onde quer que seja o meu berço e o meu lar.
Edinburgo (Arthur´s Seat)
03/05/2016
João Bosco da Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário