Caminhada Catártica
ao meu amigo
carpinteiro,
Não sei se era o Sol que se punha, se éramos nós que caminhávamos
Para detrás da montanha por aquele caminho rodeado de
castanheiros
No fim de uma tarde quente, seria verão, pela recordação em
tons cinzentos
Parece que não, se calhar o calor só o da tua voz soprando o
fumo de um cigarro
Que acreditava que eterno, afinal não, afinal também tu como
o meu avô,
Não me lembro do que falávamos, mas parecias contar-me uma
verdade
Sobre a vida e a morte, provavelmente falavas-me da guerra
em África,
Ou da falta de sapatos nos dias frios, ou então do calor de
um perfume francês,
A cova do meu avô ainda não tinha afundado e cada passo me
parecia um abraço,
Eu garoto, ainda com tempo para tudo, goza a vida João,
dizia-me,
Quantas vezes não a poupei só para não te deixar mal, mesmo
que não
Te tenha contado tudo, a vida não é para se poupar, é
comê-la à dentada
Antes que se estrague, depois nem dentes há para o pão duro
em que se torna,
Entretanto o Sol pôs-se, a terra arrefeceu, passaram anos
desde aquela
Caminhada na aldeia do meu pai, e agora tu além da montanha
onde o Sol se esconde.
29.04.2016
Turku
João Bosco da Silva
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