“Da Natureza Dos Deuses”
Se o engenheiro soubesse que as visitas não visitas, mas
testemunhas do final,
Contagens decrescentes silenciosas e inquietas entre as
palavras cruzadas,
Cães à espera que o velho morra e abra os dentes, deixe cair
o osso que todos querem,
Todos sorrisos ao entrarem que logo se apagam num canto que
espera que durma,
Durma senhor engenheiro, descanse, abra o dente que já
mordeu muito,
E os olhos do homem no tecto a tentarem agarrar o que resta
da vida,
Aquelas mulheres todas em troca dos favores e outras tantas
em troca da ilusão,
Ele pode, ele se quiser, ele mete-te lá, ele mete, um deus
quase, agora estrangulado
Numa fralda que sem dar por isso aquece e depois frio nas
vergonhas
Que subjugavam, de joelhos se faz favor, engula toda, vá,
não se esqueça
Do que fiz pelo seu marido, o seu filho passou graças ao
apertinho bom da mãe,
A sua filha já tem que idade, todas naquele tecto vazio
enquanto um parente
Se debate com uma palavra horizontal, tão fácil, tão simples,
cinco letras, na ponta da língua,
Morte.
27.06.2016
Turku
João Bosco da Silva
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