Outras Fomes
ao Paulo Azevedo
Servia-nos qualquer apeadeiro de carne, qualquer sombra de
pregas,
Sorrisos vendidos a medo, dentes sem cuidado nas fomes dos
outros,
Servia-nos qualquer momento escondido, qualquer distração de
catecismo
E num cruzar de pernas o mundo todo perdido num embrulho
rápido de papel higiénico,
Qualquer vazio era desculpa para mais uma cuspidela no
coração,
No próprio também, mas haviam sempre escadas rolantes para
nos levar
De volta sem vergonha, havia sempre uma janela de autocarro
que a levava para longe,
Para onde se força o esquecimento, mesmo que ainda se lhe
saiba a morada,
Servia-nos qualquer porta aberta nesta longa noite que se
nos tranca
E nos aguça a vontade, tornando-a cada vez mais fina.
Turku
10.05.2017
João Bosco da Silva
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