Mão De Terra
Dava-te um destes dias, já que os arrasto pela madrugada
como bêbados indesejados
E a vontade é de os deixar atrás de um caixote do lixo, com
mais conteúdo de certeza,
Dava-te mais umas horas, das que gasto a gastar a paciência
a roer os vidros da janela
Com os olhos à procura de uma vontade que me abra a porta e
me leve para vida, carne,
Verdade, ando cansado de pintar sorrisos em olhos que só
esperam terra, ando cansado,
Cansado do calor que o Sol promete mas a pele nem sente,
cansado dos amigos que passam
Os dias só nas minhas saudades, cansado até do cansaço, nem força
para mais uma desilusão,
Nem dentes para mais uma dentada de fome num mexilhão
brindado com areia
A fazer de pérola, às vezes uma música como um tropeço desperta
um sonho
Ou uma memória, às vezes alguém diz que isto lhe passa pelos
olhos e até me sinto poeta,
Não como quando comecei a tropeçar em versos, isso já vai
nos castanheiros que arderam,
Nos livros que acumulam pó pela fé, o Sol promete-se há
horas no horizonte
E tu já te deixaste de madrugadas, dava-te este dia, sabes,
este e muitos outros,
Tu ao menos tinhas fome, mas dá deus vida só a quem não a
sente.
02.06.2017
Turku
João Bosco da Silva
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