Não quer viver
em versos -
comigo agora.
Pequeno Sol
que acende
a alma do poeta.
Pequeno Sol
que ilumina
os abismos do poeta.
Qualquer estrela
te inveja
pequeno Sol andarilho.
Arrancava as raízes
por mais uma
ancoragem no teu sorriso.
Verão frio –
mel quente
escorre dos lábios.
Céu azul em Agosto,
respira-se claro –
Portugal?
Nem sempre
há fumo
no horizonte.
Uma árvore
num descampado –
a solidão sobrevive.
Esta pequena
pena perdida –
onde o pássaro?
O que os olhos vêem –
tudo o que
não será.
Agarra o que te move
enquanto o mundo
chega ao fim.
Não cresças demasiado
antes
da tempestade.
Raízes sem espaço –
queda anunciada
na próxima tempestade.
Acabou por cair
o pinheiro
do cimo da fraga.
Aquele pinheiro
em cima da fraga
acabou por cair.
Sabes-me
ao Sol de Agosto
no restolho.
Mastigar um figo
como o que restou
da infância.
Castelos de areia,
raízes em fragas –
tudo seca.
Ondas e gente –
só o mar
permanece.
Não rima
nem nada –
é a vida.
Apodrece na areia
a alga –
qualquer distância consome.
Não escolhas nada –
deixa a chuva
cair.
Chegam ao paraíso
notícias tristes
da casa de Inverno.
Um rochedo
coberto de nevoeiro
no peito.
Peões de pedras
e paus –
injectam medo encomendado.
Levar a infância
seca
ao rio do Verão.
Onde se deixou
o Sol
que a pele queimou?
Fim de verão –
o rio que passa
permanece.
Cantam os grilos
longe dos filmes
japoneses.
À beira do rio
as flores
dizem adeus.
Secaram as amoras
ao Sol –
os amores e as andorinhas.
Anoitece –
na pele quente
o Sol ainda.
Manhã fresca
de Junho –
papel de banda-desenhada.
Debaixo da figueira
os figos apodrecem –
o Verão passa.
Caule ao vento –
o movimento
a verdade.
Tudo nos sobrevive
até uma pequena
lima de madeira.
Como segundos que passam
as moscas
no fim do Verão.
À sombra da mimosa
a mula
espera o Outono.
Debaixo da oliveira
eu
e uma sombra.
Toca o sino –
levanto-me
da fraga quente.
Amarelecem as agulhas
do pinheiro –
cai a pele.
O pinheiro da infância
resistiu ao incêndio –
escrevo com carvão.
Torre de Dona Chama – Peniche – Berlengas – Cidões, Agosto
de 2017
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