Enquanto Se Espera Um Conto Sobre Paris
Na primeira vez que visitei Paris, não comi ostras, nem tinha provado,
Só mesmo nos livros do Hemingway e as pêras das páginas pareceram-me
Muito melhores do que as que apodreciam na fruteira da cozinha,
Acabei por trincar beiça junto a um muro do cemitério de Montmartre,
As heras como testemunhas, depois de umas garrafas de vinho
Com os tios franceses, o meu namorado foi acampar com amigos,
Sempre a mesma conversa, ou pescar, ou ver um jogo não sei onde,
Ou apresentar um livro, esses cornudos egoístas, era uma conquista
Antiga, os anos caíram-lhe mal, a mim pouco me importava
Com o barulho das luzes, o outro lado espera sempre e o vinho ajuda,
Mais um corte de cabelo, uma confissão numa manhã primaveril,
Uma mijada apertada depois de um filme longo num primeiro encontro,
Não fossem os tios julgarem que a bússula estragada e contra uma árvore
Pelo Sacré-Coeur abaixo, lá me chupou a língua escura do vinho
Como os seus mamilos ao luar de um Agosto distante,
Desculpa, mas tenho que ir e nunca mais a vi, ao muro sim,
Sempre que por lá passo me lembra da noite em que não me perdi
Em passados, e isto, aqui, só porque espero o conto de uma amiga sobre Paris.
Turku
11.01.2018
João Bosco da Silva
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