Sábados
Nunca percebi o funcionamento dos Sábados, havia Sol e musgo nas unhas,
Uma merenda obrigatória que nos chamava com voz de queijo e marmelada
E lá tínhamos que descer desde as fragas, isto antes dos mundos pixelizados
E da fome a cuequinhas molhadas, podia ir-se ao pão, o carteiro não deixava
Nenhum postal do Brasil ou da França, os sinos não tocavam e no quiosque
A certeza de uma banda-desenhada depois da mesada de mais uma semana
Acumulada a saliva engolida nos intervalos, a vontade de catequese nenhuma,
Agora poucos Sábados são no fim-de-semana, continuo a não perceber
A sua utilidade, mais um dia, para levar todos os irmãos passados ao esquecimento
Num último, já não vejo televisão, os filmes tornaram-se numa imitação confortável de vida,
Repetições atrás de repetições, engrossando os contornos dos padrões,
Nada de novo, se não se derrete manteiga num sofá ressacado,
Prepara-se um domingo sem deus, como todos os dias,
Nunca percebi o funcionamento da vida no geral, não só dos Sábados,
Cheguei aqui por acumular incertezas, agora não passo de um saco cheio,
Um buraco negro massivo, procurando a alma em mais um copo vazio.
Turku
03.02.2018
João Bosco da Silva
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