Anoitecer
Os cães morrem, revolve-se a terra no quintal e tudo fica na mesma,
Os amigos esquecem-te, uns mais rápido que outros, a tua sombra cresce,
O dia acaba, ninguém para te render e tudo fica na mesma,
Morrem e em vez de acabar levam-te aos poucos o pouco que te fizeram,
Contudo fica tudo na mesma, lentamente as garrafas se tornam em ti,
Alguém te lembra daquilo que já não és, mesmo que te continues a chamar tu
E mal te conheceu, tudo fica na mesma, cada vez menos pratos na mesa,
Cada vez mais cacos nos sacos de lixo dos dias idos, tão lento a conta-gotas
O tempo que te esvazia, os gatos todos jovens desconhecidos
Que te reconhecem mas nunca te conhecerão e tudo fica na mesma,
Como o silêncio depois daquela música como a chuva antes de anoitecer.
Turku
27.01.2018
João Bosco da Silva
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