Paterson Revisitado
Hoje, entre a incerteza de mais um cigarro e uma página alheia, fecho o Paterson
Só porque o sistema límbico me sussurra a memória de um cheiro de um sabão de Marselha,
Contudo acabo por acender mais um cigarro, não uso os fósforos azuis,
O isqueiro é como a vida, sempre cheio até que se acaba subitamente,
Um fósforo é mais como alguns amores, não os que deixas à chuva,
Tudo tem possibilidade de se acender, nem tudo de incêndio, tudo tem a certeza
De se apagar, como um poema com uma garrafa vazia ao Sol, que se acende
Nas cinzas de um outro escrito há um ano, sobre o sabão que se gastou
E na pele apenas a vontade de mais um banho, seja com que sabão for,
Recicla-se a vontade como se reinventam os dias, semeando a ilusão da eternidade,
Nos nossos dedos insatisfeitos, arde uma página pequena, segue-se outra,
Coberta pela irremediável necessidade da tinta, o livro azul chama a alma à limpeza,
Nada pode salvar o amor quando se cansa, só se aguenta o filtro na boca por distração
E o poema termina como tem que ser, mesmo que nunca tenha tido razão para um primeiro verso.
12.06.2018
Turku
João Bosco da Silva
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