Aniversários
Quando fiz treze ou catorze anos, recebi uma t-shirt azul de marca,
A primeira a sério, a marca quase morreu, hoje mantém o nome,
Os donos devem ser outros, cheirava a alegria nova,
Os meus amigos chutavam uma bola no caminho,
Enquanto esperavam que a minha febre baixasse,
Ouvia a felicidade do mundo pela janela, o presente à espera,
A morte sempre tão próxima, não sei se a tenho enganado
Todos estes anos, se ela me tem enganado a mim,
Apesar do sabor metálico dos canos entre os dentes
Até a sombra passar antes de um último movimento de dedo,
Da vontade do salto de cabeça da varanda da irmã,
Das garrafas ondulantes Inverno fora e dos cigarros
Como a maioria dos amigos, durei mais que a t-shirt,
De certeza que ainda me serviria, só engordei uns dois anos de corpo,
A alma, essa, parece um farrapo maltratado por tempestades de verão,
Contudo pesa toneladas velhas, como aquelas carrinhas
Que com o motor podre, iam de aldeia em aldeia, comprar ferro-velho,
Aos catorze anos já morria, desisti de muito amor por sentir
Que a minha eternidade não seria suficiente, bebo o Sol como se fosse
O último e isso me matasse, se ao menos tivesse aprendido
Outra forma de enganar a morte além desta.
Turku
12.06.2018
João Bosco da Silva
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