”Alguns Preferem Urtigas”
Encontra um pecado que te condene pela eternidade
E repete-o pela vida fora, está tudo perdido,
Seja como for, o namorado que tinha ido ver o hóquei
E a foda rápida no carro dele, atolado na lama,
O outro que tinha ido à pesca e a foda lenta na cama
Onde a roupa dele encartada, acabada de lavar,
O que tinha ido acampar enquanto ela procurava
Uma mamada apressada junto ao cemitério de Montmartre,
Depois filhos, deles, imaculados, nelas, será que ainda
Vestígios genéticos teus, nelas, quando eles fuçavam
Novas vidas naquelas conas, com fome de salvação,
Tu apenas um erro, uma vez, um esquecimento fingido,
Um respirar fundo antes do mergulho resignado,
Para ti um pecado, nesse coração herdado da doutrina,
Condenado à solidão, mesmo que rodeado por vontades,
Não lhes tomas os olhares, escondes-te na tristeza
Dos copos mal lavados, imaginas as vidas limpas
Dos que passam pela vida como se nem fim houvesse,
Tão leves, até na forma como ajoelham num desconhecido
E se lavam a seguir e o dia luminoso e a vida uma alegria
Humida patilhada corpo a corpo, iluminação pela carne,
Quando a ti apenas te escurece mais essa alma semi-católica,
A poesia o teu confessor, a gaveta o teu inferno privado,
Continuam os olhares como portas abertas para outros abismos,
Mais uma benção de um pecado, quando a vida te encosta
A um canto e te exige que te submetas, que já não tens idade
Para mandar tudo às urtigas, mas “cada bicho com seu gosto”,
Cada um com os seus pecados favoritos, haja algo
Que justifique a morte e as cores do crepúsculo.
Turku
27/09/2018
João Bosco da Silva
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