Aquelas Mulheres
“God is the invention of failures.
the only hell is where you are.”
Bukowski
Gosto de revisitar três ou quatro mulheres quando escrevo,
Gosto de as misturar, usar aquela vez no cemitério com esta,
Ou a boca cheia da outra no parque da feira em vez de no carro,
Gosto de tornar o Verão num Inverno na serra,
De emprestar as calças brancas de duas a uma terceira,
Gosto de saborear o porto de uns lábios noutros lábios,
Não sei porquê, nenhuma foi minha realmente,
Nem tanto quanto as que esqueci o nome, como aquele cu grego,
Na casa de banho a vir-se como nunca, palavras,
Quem vai acreditar nos joelhos, ou a estudante meia sueca,
Ou lá o que era com as meias de vidro rasgadas pela consciência,
Ou a colega com a roupa lavada do pai do filho futuro, ainda por encartar,
Em cima da cama onde foderíamos contra todas as probabilidades por mil,
É a primeira vez que as toco em versos, as outras, apesar de passar de uma década,
Continuo a montar puzzles com aqueles olhos,
As suas palavras, todas me pareceram ridículas como um espelho,
O sabor e o cheiro de cada rata, tão diferente como uma noite de Novembro
E uma de Agosto, estranhamente, nada disto me excita,
Sinto uma tristeza fina, como um orgulho ridículo do melhor idiota da aldeia,
Como o dono de algo que teve que ser vendido para pagar o vazio,
Três ou quatro mulheres, aqueles corpos tão familiares como uma almofada velha,
Agora donos de filhos, de maridos, de traições e sonhos perdidos,
Nenhuma naqueles pedaços que espalho pelos poemas
Em noites como esta, longe de todos os verões, todas as certezas desesperadas.
16.11.2018
Turku
João Bosco da Silva
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