terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Trio

Lembras-te daquela noite em que acabamos por praticar boxe,
Deixaste-me um tomate negro e o olho a arranjar desculpas,
Ela veio porque disse que tinha gostado do meu casaco,
Da cor dos meus olhos, não sei, do facto de ser francês,
O namorado a perguntar porque ia connosco,
A minha barba na altura nem sequer barba,
Em tua casa ninguém na cama à espera, ela lá foi,
Quase a chegar onde hoje não faço ideia,
Tu em vez de me empurrares ponte abaixo,
Saltas-lhe na garganta, quase lhe provavas o jantar com a língua,
Houve sequer elevador, não sei, cerveja italiana,
Eu de joelhos na cama à janela a fumar um cigarro emprestado
E tu outra vez, a enfiar-lhe a língua até à alma,
Mãos dentro das calças, a olhar para mim,
Pisca-me o olho, eu cá para mim, vais foder esta merda toda,
Ela olha para mim à janela, começa a chorar,
Que raio estou a fazer, fodasse, eu nem um pouco de cinza na cama,
Bem-comportado, tenho que ligar ao meu namorado,
Eu não sou assim, ninguém é, mas todas têm sido,
Penso eu de mão limpas, não vás, bebe mais uma,
Deixa-a ir, dizes tu, depois fodes-me a bentas enquanto
Te conto sobre noites em que não me pareceu perder tanto
Como naquela, dizes que ela voltou, acredito.

03.12.2018

Turku

João Bosco da Silva

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