sábado, 23 de fevereiro de 2019

Da Distância 

Enquanto bebo este café distante, encostado a uma pele que me parece emprestada, 
Não é a água quente do Índico que me faz lembrar da tua envolvência 
Em noites estreladas e secas, nem sequer me lembro de ti, tal é a abundância de fruta fresca, 
São as notas com muitos zeros que me fazem ruminar e como hortelã-pimenta, 
Surge fresca a memória daqueles dez contos e o último abraço do meu avô, 
Antes de partir com as perdizes e os javalis que caçou, o mar pouco me diz, 
Cheio de segredos e abismos demasiado profundos para uma alma pesada, 
Não temo nem desejo o horizonte, só o esquecimento me assusta, por isso, 
Pego numa nota de cem mil rupias e relembro como quem perde uma vez mais 
E os momentos passam, ficando só um abraço no vazio, uma mão estendida 
Algures na memória, tão próxima quanto os sonhos quando se acorda. 

Canggu 

09.02.2019 

João Bosco da Silva

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