Poeta em Fim de Carreira
Já há muito que deixaste de ser o miúdo novo da escola,
Eras jovem e magro, até marchavas, mas os anos somados à magreza
Tornaram-te apenas caquético, um tísico de corpo e alma,
Seco como um líquen agarrado a um carvalho doente,
Ninguém se interessa pelos teus mortos, pelas fodas que deste,
Nem àqueles a quem entraste, varreram-te como um sonho de sesta,
Até te toleravam o uso da poesia como forma de salvares o passado,
Mas nunca te viram com futuro, que entretanto chegou vazio,
Ninguém perde tempo com os teus cabelos brancos,
Os desamores efusivos da juventude agora apenas versos sem vigor,
Com a pujança de uma próstata doente contra uma parede aflita,
Nunca foste um poeta a sério, pelo menos não tão a sério quanto
Os que fazem da poesia carreira política, nunca te preocupaste com prémios,
Mas conquistaste ao menos a posição de maior palheiro da aldeia,
Esperas que os garotos vão fumar em ti às escondidas,
Contas com a sorte de um azar que te acenda, mas choveu na palha,
Como esquecimento e nem que o cigarro lhes caia das mãos,
A noite continuará escura e cada vez mais, menos interesse terão em ti,
Envelheces, esgotaste na falta de jeito todos os versos possíveis,
Agora aceitam o teu último livro como um panfleto numa rua agitada,
Com sorte esquecem-te no bolso de um casaco, o mais certo é ficares
Logo ali, no caixote do lixo mais próximo, ridículo como mais um poema.
13.01.2020
Turku
João Bosco da Silva
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