Nada de Novo
Morreste e nesta nova década, continuas morto, parece impossível
Que haja algo realmente definitivo, algo tão familiar e abismal,
Incompreensível não voltar a ver o teu cabelo branco rampa acima,
Enquanto a tua transit da mesma cor te esperava o regresso,
Preferia ser carro, não sentir a falta de ninguém, era vendido
E pronto ou apodrecia numa garagem ou numa eira
Onde garotos perderiam inocências e virgindades na companhia de vespas,
Não passa de uma semana em que não a veja novamente,
A dos outros, sempre a dos outros e a minha sempre possível
A cada instante, contudo a tua é a que mais estranho,
Todos os teus ódios apagados como a pólvora que acendias
No escalpe do inimigo em África, o medo às camas armadilhadas
Um esquecimento encaixotado em forma de eternidade,
A palidez perfumada das francesas um desejo mudo nos teus lábios,
Nada nunca mais, e não há nada mais estranho nem mais certo,
Agarra cada oportunidade, dizias-me, entra em tudo o que se abrir,
É o que se leva da vida, mas na verdade, da vida não se leva nada,
Só se estranha tudo, então aborrece e depois nada,
A década é outra e tu continuas morto e eu não apodreço numa eira,
Nenhum garoto perdeu a inocência em mim, as vespas só dentro,
Nem isto é um poema, é só um pedaço de tristeza que não pinga.
Turku
09.01.2020
João Bosco da Silva
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