quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Donos do Rio e da Primavera 

Tínhamos o rio e a Primavera, todos os saltos eram certos, 
A saches levava-nos sem capacete porque ainda éramos imortais, 
Todos os dias aprendíamos que a vida valia a pena, 
Nada tínhamos que saber dela, havia Sol e os sorrisos 
Das colegas de turma com as suas calças bem apertadas, 
Os livros esperavam a noite, a sombra pedia cartas 
E jogávamos com mãos certas, ainda não havia ninguém 
Que nos rendesse, contudo alguns já fodiam, sempre houve 
Roupa interior que se molhava, uma secava no corpo, 
Outra deixava-se pendurada num negrilho, esquecida, 
Para uma memória eterna, lambia-se a poeira dos dentes, 
Como se atravessava o portão da escola sexta-feira, 
Tínhamos tudo, dinheiro para pagar sandes a todos 
No primeiro intervalo do dia de aniversário, 
Poemas só no dia da árvore ou dos namorados, 
Porque ninguém faltava, nada faltava, tínhamos os bolsos 
Cheios de mata-ratos, pipas e tesão, até Primavera, 
Tínhamos o rio, sabíamos os nomes de todos e isso bastava. 

Turku 

06.02.2020 

João Bosco da Silva 

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