quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Os Bolsos dos Poetas 

Devem ter os bolsos enormes os poetas, dizem que perderam esta 
Ou aquela mulher, fracos bolsos também, rotos de tanto se coçarem  
E lá se vão as mulheres, então os poetas dão-lhes vida, que farão agora, 
Pensarão em mim, em que bolsos, serão seguros, os poetas, esses ridículos 
Que depois enchem os bolsos de papeis com as palavras que não foram ditas  
E coçam e fazem mais um buraco, porque ficou ainda mais por fazer 
Do que o que foi calado, ah poetas de ninguém, metendo ao bolso para perder, 
Escondendo a luz do Sol nos bolsos dos casacos avarentos, mordendo o silêncio 
Até que algo amargo surja para lhe chamar amor, devem ter bolsos enormes 
Os poetas, mas não é gente o que eles julgam que enfiam neles, 
São espelhos pequeninos, que lhes cortam os dedos e as virilhas, 
Onde viram o reflexo do que nunca lhes pertencerá. 

Turku 

24.01.2020 

João Bosco da Silva 

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