terça-feira, 17 de março de 2020

Haikus Tropicais 

Na fertilidade tropical 
crescem 
os muros. 

Sobre o asfalto 
dançam 
duas borboletas amarelas. 

Canta a arara 
o gato esconde-se 
irá chover. 

Que comem as pombas 
no meio 
da estrada? 

Como o cigarro 
não fumado 
aquela mulher. 

Limpo o cu 
e o mundo 
lá continua. 

Desconheço o nome 
das flores 
sei que são belas. 

Enquanto os grilos 
cantarem 
haverá Sol. 

Frio e quente 
mais real 
que bem e mal. 

Longe de casa 
sufoca no verde 
a figueira. 

Insecto cromado 
que perigos 
encerras? 

Onde os grilos cantam 
o verão 
na terra natal. 

Ninguém morreu 
se os trazemos 
nos dias felizes. 

É imortal 
que nos habita 
a saudade. 

À uma da tarde 
os grilos 
a eternidade possível. 

Do cemitério abandonado 
chega o livro 
de Bashô. 

Sabes que não é Agosto 
quando não conheces 
a fruta. 

Com tempo e distância 
tudo 
é nada. 

Nada se teme 
tanto como 
a certeza. 

Passa o carro da fruta 
que sonhos 
na noite passada? 

Que fome te leva 
a pedir 
ò sujo desconhecido. 

Cão de praia 
que iluminado foste 
noutra vida? 

Água de coco 
o teu sorriso 
a distância. 

O inferno no paraíso 
como luz e escuridão 
no universo. 

Tentar imortalizar 
uma vida desperdiçada -  
escrever. 

São Paulo, Março 2020 

João Bosco da Silva 


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