sexta-feira, 20 de março de 2020


No Cemitério de Vila Formosa

No Cemitério de Vila Formosa a terra é cor de tijolo, os mosquitos são famintos
Mesmo com trinta graus e o Sol é húmido de inferno e cólera,
Demorei trinta anos a visitar-te e agora vejo este monte de terra quente,
Com um cata-vento vermelho e verde, que roda às vezes,
Mesmo sem vento e tu sorris de uma foto pequeníssima,
E comove-me a forma como a tia arranca uma erva daninha,
Com o mesmo cuidado de quem tira um cabelo solto da cara de alguém,
Rega as plantas porque não te pode dar um abraço,
A morte dói só aos vivos quando o amor permanece,
Apesar da humidade do ar, aquele calor é doloroso como metal,
A minha prima soluça, não consigo deixar de olhar para aquela terra estranha,
Onde passarás o resto dos dias que já não te restam,
Custa-me esta distância, o pouco que me ficou de ti, um gelado esmeralda,
Um carrinho de brincar, o sorriso que parecia dizer que tudo está bem,
Segurando uma g3 numa foto da tropa, um monte de terra vermelha,
Entre milhão e meio, no mato rodeado por uma floresta cinzenta,
Contudo, o Cemitério de Vila Formosa, não será a tua última morada,
Essa será naquele ente último a lembrar-te ou este poema.

Turku

20.03.2020

João Bosco da Silva


Sem comentários:

Enviar um comentário