domingo, 5 de abril de 2020


“Young and Beautiful”

Nunca regressarei luminoso como um Gatsby, tive essa ilusão
Há dez anos e também acabou em acidente de carro,
Todos sabiam de onde vinha, nunca ninguém soube quem eu era,
As pernas abriam-se com facilidade, as manhãs eram pesadas,
Os olhos dos meus pais empalideciam e o chumbo frio esperava
O desespero das noites delirantes, o olhar do abismo era esmagador,
Houve amizades que se redimiram da adolescência,
Me seguraram enquanto o mundo desabava em lugares sagrados,
Contudo, dez anos depois, duvido que sequer se recordem do anjo caído,
Aquele acólito tornado palhaço de tasco, sem medo de meter a piça
No nojo dos outros, a esta distância, depois de ter acendido e apagado
Mais vidas do que qualquer fecha tascos poderá algum dia imaginar,
Só me arrependo da delicadeza com que levei alguns dias,
Do silêncio que escolhi por cansaço ou consideração,
Da minha má companhia depois das garrafas vazias, das mulheres trancadas
Nos quartos seguros, do amor que mata o caos que faz o sangue correr.

Turku

05.04.2020

João Bosco da Silva

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