O Verão da Gazela
para a Cesar,
As estrelas multiplicaram-se naquele verão, a lua perdia a
definição
Da inocência, as mãos tornavam-se cada vez mais pequenas
E o espelho ridículo, jogavam-se as fichas todas numa noite
ruidosa,
Ficava-se com os bolsos vazios sem incomodar os passos
incertos
Pelo caminho de paralelos abaixo, cheio de solidão no peito
E um tesão que nenhuma punheta apagava, a emigrante mais bonita
Da terra, dezanove anos, e nós deitados à vez no seu colo,
A olhar o céu quente, nunca me perdoarei o fracasso nos
olhos dela,
Aqueles lábios em forma de sonho que nunca cheguei a beijar,
Aqueles lábios que me contavam que tantos amigos provaram,
Até o membro da banda brasileira da moda, aquela tarde
derrotada,
Sozinhos em casa dela, ela sentada na cama à espera e eu a
olhar
O rio da ponte romana, sem conseguir engolir o salto, mais
uma música
Para ver a areia cair por entre os dedos, cada segundo um
nunca mais
Mais próximo, voltei a vê-la quando já tinha as mãos
cansadas
De sujar o que até sem vontade engolia, ela casada, cansada,
Longe dos dezanove anos, nos olhos que um dia cegos de
desejo,
Apenas tristeza, aquele colo quente fazendo companhia às
estrelas
Que se multiplicavam, na toalha ao lado, uma desconhecida,
Todas as minhas cartas de amor de certeza perdidas, pior,
esquecidas,
Setembro chega sempre e por vezes dura o resto da vida.
Turku
05.04.2020
João Bosco da Silva
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