Saco de Laranjas e Lata de Cerveja
Segura bem o desespero, às vezes é o último copo da noite,
E sabes que todas as noites são a última, nenhuma manhã te
salvará,
Nenhuma mão que se estenda será apenas um gesto de bondade
pura,
Viveste tempo suficiente para levar o fim do mundo como mais
um dia longo,
Não interessa que a poesia seja ruim, se mordeste a vida com
os dentes todos,
Já pisaste a acrópole duas vezes num sol de purgatório,
Sonhaste o aço purificador debaixo de pinheiros delicados
como certas púbis,
Viste os longos lábios de pedra que pariram a humanidade num
sol de inferno,
Não houve Sol de continente que não te tenha mordido a pele,
Que fim interessa quando os bolsos novamente vazios e o
coração pesado
Dos dias que não se puderam levar, chove sempre nos
cemitérios,
Se não estão trinta graus, o silêncio pinga por dentro amargo
como lágrimas
Que orgulhosamente se fingem não conhecer, segura bem o
desespero,
Sabes bem que a segundos antes da meia-noite, nada
levarás do que és.
Turku
05.04.2020
João Bosco da Silva
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