domingo, 5 de abril de 2020


Saco de Laranjas e Lata de Cerveja

Segura bem o desespero, às vezes é o último copo da noite,
E sabes que todas as noites são a última, nenhuma manhã te salvará,
Nenhuma mão que se estenda será apenas um gesto de bondade pura,
Viveste tempo suficiente para levar o fim do mundo como mais um dia longo,
Não interessa que a poesia seja ruim, se mordeste a vida com os dentes todos,
Já pisaste a acrópole duas vezes num sol de purgatório,
Sonhaste o aço purificador debaixo de pinheiros delicados como certas púbis,
Viste os longos lábios de pedra que pariram a humanidade num sol de inferno,
Não houve Sol de continente que não te tenha mordido a pele,
Que fim interessa quando os bolsos novamente vazios e o coração pesado
Dos dias que não se puderam levar, chove sempre nos cemitérios,
Se não estão trinta graus, o silêncio pinga por dentro amargo como lágrimas
Que orgulhosamente se fingem não conhecer, segura bem o desespero,
Sabes bem que a segundos antes da meia-noite, nada levarás do que és.

Turku

05.04.2020

João Bosco da Silva

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