sábado, 20 de junho de 2020


Depois do Fim

Ando há anos cansado do que nunca vivi realmente, a última vez
Em que acordei feliz numa manhã de junho foi quando ia comprar
De manhã, revistas de banda-desenhada no quiosque da terra,
Só nos excessos das noites encontrei algo parecido à paz,
Só no ar quente do fim da tarde reconheço nos cheiros verdes
A verdadeira juventude, antes de me condenar aos desejos pelos outros,
Ainda o negrilho tinha muitos anos pela frente, claro como a primavera,
Agora, só o cansaço, desenterro poemas de outros anos, nunca piores,
Alguns sem terem sequer existido, parece-me que tudo foi apenas um somar
De ilusões até à evidente morte dos sonhos, agora tento morder o ar quente
Desta noite de São João, encontrar nas gengivas a doçura da inocência,
Quero acreditar nos milagres ondulantes das searas, naquelas mamas
Que foram minhas num momento que durou uma eternidade
E nem sequer aconteceu, onde acabei eu, quem me lembra antes do orvalho.

Turku

20.06.2020

João Bosco da Silva

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