Depois do Fim
Ando há anos cansado do que nunca vivi
realmente, a última vez
Em que acordei feliz numa manhã de junho foi
quando ia comprar
De manhã, revistas de banda-desenhada no
quiosque da terra,
Só nos excessos das noites encontrei algo parecido
à paz,
Só no ar quente do fim da tarde reconheço nos
cheiros verdes
A verdadeira juventude, antes de me condenar
aos desejos pelos outros,
Ainda o negrilho tinha muitos anos pela
frente, claro como a primavera,
Agora, só o cansaço, desenterro poemas de
outros anos, nunca piores,
Alguns sem terem sequer existido, parece-me
que tudo foi apenas um somar
De ilusões até à evidente morte dos sonhos,
agora tento morder o ar quente
Desta noite de São João, encontrar nas
gengivas a doçura da inocência,
Quero acreditar nos milagres ondulantes das
searas, naquelas mamas
Que foram minhas num momento que durou uma
eternidade
E nem sequer aconteceu, onde acabei eu, quem
me lembra antes do orvalho.
Turku
20.06.2020
João Bosco da Silva
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