sexta-feira, 13 de novembro de 2020

 

Anosmia, Dióspiros e Vestido Branco

 

Sentado, quase vinte anos depois, debaixo daquele diospireiro,

Tu sais da sala fresca, daquele verão quente, vestido branco,

E vens sentar-te no meu colo, abraçando-me, era apenas isto,

Apenas isto tudo, nós inteiros como as nossas mãos,

Primeiro abraço-te e enterro a cara no teu cabelo, inspiro fundo,

Tento controlar a ereção que nasce, o pulsar que me insufla

Em direção às cuecas que me tocam a braguilha, porque tenho outra

Vez dezasseis anos e não sei como saltar da ponte,

Mas tu sentes-me crescer debaixo de ti e apertas o teu corpo

Com mais força, então lembro-me que estou farto de cabelos brancos,

Enterro mais a cabeça no teu cabelo, beijo o teu pescoço,

Levanto o vestido e procuro a pele das tuas nádegas,

Que aperto em direção à minha latejante vontade, inspiro fundo,

Não sinto qualquer aroma, puxo-te mais para mim, abres-te,

Então abro os olhos e tu não estás, continuo debaixo

Do mesmo diospireiro, a porta da sala está fechada e é inverno,

Numa vila deserta e cinzenta, já tinha percebido que tudo era um sonho,

Nunca senti qualquer cheiro nos sonhos, mesmo tendo o teu tatuado no hipocampo,

Fiquei ali sentado, no sonho, à espera, quase vinte anos,

Raramente penso em ti, contudo, sabendo-me a sonhar,

Ali fiquei à geada até acordar, eu que nunca gostei de dióspiros.

 

13.11.2020

 

Turku

 

João Bosco da Silva

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