Anosmia, Dióspiros e Vestido Branco
Sentado, quase vinte anos depois, debaixo daquele diospireiro,
Tu sais da sala fresca, daquele verão quente, vestido
branco,
E vens sentar-te no meu colo, abraçando-me, era apenas isto,
Apenas isto tudo, nós inteiros como as nossas mãos,
Primeiro abraço-te e enterro a cara no teu cabelo, inspiro
fundo,
Tento controlar a ereção que nasce, o pulsar que me insufla
Em direção às cuecas que me tocam a braguilha, porque tenho
outra
Vez dezasseis anos e não sei como saltar da ponte,
Mas tu sentes-me crescer debaixo de ti e apertas o teu corpo
Com mais força, então lembro-me que estou farto de cabelos
brancos,
Enterro mais a cabeça no teu cabelo, beijo o teu pescoço,
Levanto o vestido e procuro a pele das tuas nádegas,
Que aperto em direção à minha latejante vontade, inspiro
fundo,
Não sinto qualquer aroma, puxo-te mais para mim, abres-te,
Então abro os olhos e tu não estás, continuo debaixo
Do mesmo diospireiro, a porta da sala está fechada e é inverno,
Numa vila deserta e cinzenta, já tinha percebido que tudo
era um sonho,
Nunca senti qualquer cheiro nos sonhos, mesmo tendo o teu tatuado no hipocampo,
Fiquei ali sentado, no sonho, à espera, quase vinte anos,
Raramente penso em ti, contudo, sabendo-me a sonhar,
Ali fiquei à geada até acordar, eu que nunca gostei de
dióspiros.
13.11.2020
Turku
João Bosco da Silva
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