“Um Comboio para a Lapónia”[1]
Como um amor antigo
o Sol toca
a barba gelada.
Silenciosamente
parte o comboio
quase vazio.
Quem pisará este chão
quando a neve
uma recordação?
Que respostas procuro
na lareira
que crepita?
Aproximo as meias de lã
à lareira estrangeira –
quando um abraço?
Rodeado por silêncio
branco
a noite estende-se.
Enquanto as batatas
cozem
o peixe espera.
Que palavras dançam
nas chamas
desta lareira?
Dois livros
meia-dúzia de paus
e uma noite.
Protegido por madeira
queimando madeira –
nem uma queixa.
Uma chávena de café
uma lareira
e todas as distâncias.
Sobre o mesmo galho
corvos e pombos
aproveitam o Sol.
Na mão nua
derrete
um punhado de neve.
Nos olhos do peixe
uma vida inteira
que passa.
No fuso de gelo
o brilho inteiro
de uma estrela.
Arrefecem as brasas
nunca esquecerei
as chamas.
Iluminado pela lareira
brilha na tua pele
o meu esperma.
As crianças fazem
o boneco de neve
como se o Inverno interminável.
Neva sobre a pegada
brevemente
ninguém passou.
O bruxulear
das últimas chamas
numa noite gelada.
Não sabes quão longa
será a noite –
aproveita a última chama.
Nunca conseguirás
reacender o que ardeu
até às cinzas.
Subir a montanha branca
descer a montanha dourada –
anoitece.
Amanhece na montanha
encolhido chego-me
à lareira apagada.
Preparo-me para descer
a montanha –
começa a nevar.
Esta dor nas costelas
ao inspirar
porque estou vivo.
Morreu-me
um amigo –
é tudo.
Voltei a sonhar
com o meu amigo –
dia de sol.
Reflexo na janela
do comboio –
que fiz dos anos?
Pyhä, Fevereiro 2021
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