Um Poema Sobre Pó
Passo a mão no teclado, olho a linha de pó que ficou agarrada
À minha mão esquerda, isto poderia ser um verso, num sopro
Apago a linha, olho um instante a mão vazia e começo a
pousar
Os dedos nas teclas limpas, procurando o caminho de um
poema,
Vou cheirando o vinho que sobrou da noite, apesar do dia
Frio como ontem, hoje o dia é outro, também o vinho,
Uma amiga diz-me que gosta de Fitzgerald e do Gatsby,
Esse livro que li pela primeira vez a caminho da capital,
Para um torneio de basquetebol de rua, todos estávamos vivos,
Reli-o mais tarde pouco depois do meu avô ter morrido,
Agora ao meu lado Terna é a Noite, nesta escuridão precoce,
Fecho os olhos e penso na cor do mediterrâneo na Riviera,
Estranho que se encontre mais facilmente o sol quando se
fecham
Os olhos, no meu copo de escrever, o vinho espera o calor
Dos meus lábios que ainda há pouco sopraram um verso,
A juventude naquela linha, os amigos, os autocarros que nos
levaram
Sem regresso, os amores que a erosão dos dias tornou em
areia,
Uma mão cheia de negligência e nada, um poema sobre pó.
07.12.2021
Turku
João Bosco da Silva
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