terça-feira, 7 de dezembro de 2021

 

Um Poema Sobre Pó

 

Passo a mão no teclado, olho a linha de pó que ficou agarrada

À minha mão esquerda, isto poderia ser um verso, num sopro

Apago a linha, olho um instante a mão vazia e começo a pousar

Os dedos nas teclas limpas, procurando o caminho de um poema,

Vou cheirando o vinho que sobrou da noite, apesar do dia

Frio como ontem, hoje o dia é outro, também o vinho,

Uma amiga diz-me que gosta de Fitzgerald e do Gatsby,

Esse livro que li pela primeira vez a caminho da capital,

Para um torneio de basquetebol de rua, todos estávamos vivos,

Reli-o mais tarde pouco depois do meu avô ter morrido,

Agora ao meu lado Terna é a Noite, nesta escuridão precoce,

Fecho os olhos e penso na cor do mediterrâneo na Riviera,

Estranho que se encontre mais facilmente o sol quando se fecham

Os olhos, no meu copo de escrever, o vinho espera o calor

Dos meus lábios que ainda há pouco sopraram um verso,

A juventude naquela linha, os amigos, os autocarros que nos levaram

Sem regresso, os amores que a erosão dos dias tornou em areia,

Uma mão cheia de negligência e nada, um poema sobre pó.

 

07.12.2021

 

Turku

 

João Bosco da Silva

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