Ghouls´n Ghosts
Lembro-me da primeira vez em que cheguei ao fim,
Era uma tarde cinzenta, acho que a minha mãe fazia compotas,
Os vidros da janela da cozinha estavam embaciados,
Outros estavam tapados com fita cola castanha,
Lembro-me da primeira vez em que julguei ter chegado ao fim,
Só para perceber que tinha de começar do início
Com o dobro da dificuldade e com um poder quase inútil,
Mas essencial para poder defrontar o Loki e salvar a
Princesa,
Naquela tarde não me apercebi que a vida seria aquilo,
Almejar chegar a um fim que não acaba, só para enfrentar
tudo
Uma vez mais, com um grau de dificuldade incompatível com
A nossa experiência, que nos tornou obrigados a ser capazes,
Aprender a perder melhor, a perder mais, deixar as ilusões
Abrirem-se em desilusões colossais e continuar,
Um tio fascinado por cabos de alta tensão para os lados do
cemitério,
A namoradinha do ciclo aos beijos com o bonitinho da escola,
Um avô que amarelece e já não consegue levar a colher da
sopa à boca,
Tu emigrado numa ilha e a tua namorada a foder um estranho,
Outro avô que desce da mula para sempre,
Deixar a ruiva pela felicidade de um pesadelo nebuloso,
A avó que se esqueceu de ser, começar tudo de novo,
Repetir os mesmos erros com destreza, torná-los maiores,
Perder um país, arrancar as raízes na época da poda,
O amigo que te emprestou o jogo que parte para o fim
Antes do mundo acabar, quando falta tão pouco, finda a tua
imortalidade,
Lembro-me da vez em que aprendi a temer o que o fim começa.
21.03.2022
Turku
João Bosco da Silva
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