terça-feira, 11 de outubro de 2022

 

Borralho 4

 

O mais importante nesta vida é a possibilidade do silêncio,

O silêncio consciente, ouvir a rugosidade da parede nos olhos,

Não o silêncio de acordar porque alguém abriu uma porta,

Ou a carta caiu no chão, ou deixaram de nos escrever

E compensam as ausências com flores que se tornam

Plásticas e o sol arranca-lhes a cor para relembrar o esquecimento,

Isto, estar aqui às duas e meia da manhã, nada mais artificial,

No entanto, amanhecem as madrugadas na procura

Dos meus dedos por pepitas de ouro ou merda,

Uma perdição no plano cartesiano, o infinito mais próximo

Dos anos noventa do que amanhã, fazer crer que o medo

Dos cães nos dias de festa era dos foguetes e não do ridículo

Do nosso mau gosto civilizado, será o universo simétrico,

Terá um centro, uma ressaca de língua pintada,

A sombra de uma figueira onde desejar uma morte perfeita,

O mais importante nesta vida é este silêncio de dedos

Que criam nada, um caos lógico, essencial, como a ausência

Absoluta num momento do tamanho da eternidade.

 

Turku

 

11.10.2022

 

João Bosco da Silva

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