Borralho 4
O mais importante nesta vida é a possibilidade do silêncio,
O silêncio consciente, ouvir a rugosidade da parede nos
olhos,
Não o silêncio de acordar porque alguém abriu uma porta,
Ou a carta caiu no chão, ou deixaram de nos escrever
E compensam as ausências com flores que se tornam
Plásticas e o sol arranca-lhes a cor para relembrar o esquecimento,
Isto, estar aqui às duas e meia da manhã, nada mais
artificial,
No entanto, amanhecem as madrugadas na procura
Dos meus dedos por pepitas de ouro ou merda,
Uma perdição no plano cartesiano, o infinito mais próximo
Dos anos noventa do que amanhã, fazer crer que o medo
Dos cães nos dias de festa era dos foguetes e não do
ridículo
Do nosso mau gosto civilizado, será o universo simétrico,
Terá um centro, uma ressaca de língua pintada,
A sombra de uma figueira onde desejar uma morte perfeita,
O mais importante nesta vida é este silêncio de dedos
Que criam nada, um caos lógico, essencial, como a ausência
Absoluta num momento do tamanho da eternidade.
Turku
11.10.2022
João Bosco da Silva
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