Borralho V
No quarto ao lado, das duas uma, ou alguém se masturba,
Ao mesmo ritmo do toque das teclas, ou alguém me odeia e
dorme,
A porta não se tranca porque o lençol seca, salpicado com
esperma
Incontáveis vezes, só não se trocou o sofá por desconhecimento
Da verdadeira variedade genética entranhada no sofrimento
Das fibras, maltratadas por copos de vinho trémulos e
pepitas
De chocolate, espalhadas como merda, iluminadas apenas
Por um filme de Pasolini em fevereiro, e um gajo, passada
Quase uma década, continua a esfarrapar-se todo,
Por caralhos que se esquecem da cor dos olhos logo que
Se deixam embalar pela doçura inelutável da eternidade,
Aquele gajo tentou, arfando, aquele último aperto para nada,
Este verso que se desembrulha e gostaria de ser sublime
E a vida impossível dos que a organização do caos
Tornou num destino trágico, apenas alguém se move
Na cama do quarto ao lado, a saturação dos dedos,
Inconsistente com o grau de desespero de quem espera
Um verdadeiro apocalipse que o torne o anjo anunciado
Há tantos anos atrás, quando ainda havia uma luz no cabelo
Além da prata da inevitabilidade, mas ao menos isso…
Turku
11.10.2022
João Bosco da Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário