Primeira Visita a Museu*
“para quê festas e
grinaldas e canções e vinho
se os corpos envelhecem
como as coisas”
Ruy Belo
Vês estas pedras brancas, meu amor,
Estes contornos humanos, uma quase carne
Fria e estática, as mãos que a esculpiram,
Há mais de dois mil anos que não são mãos,
O mundo era outro, a vida a mesma coisa,
Muitas vidas surgiram e passaram,
Que pedras tocará o teu corpo pequeno,
Que formas lhes darás, o que ficará de ti nelas,
Como nestas pedras, pelas quais tantas vidas
Passaram, enquanto estes corpos,
A mesma pele suave, um membro ou mais
A menos, a palidez que tomou conta da memória
E os teus olhos enormes olhando o seu silêncio,
Como se percebesses o mistério criador,
A ironia da vida que cria para a eternidade
E que não passa de um momento reflectido
Na forma de umas pedras tocadas pela paixão
De uma carne não muito diferente da tua.
* Ouvir “Padre Ramirez” de Ennio Morricone ao ler (https://www.youtube.com/watch?v=7Q9maBPLp9c&ab_channel=CinemaHotelStudios)
Rodes
14/09/2024
João Bosco da Silva
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