Pedra no Sapato
Todas as manhãs acordo com uma pedra no sapato,
Com a boca seca de sonhos, no quarto um cheiro
Defunto das glórias que deixaram de ser minhas,
Uma sombra constante, dando a cor de perigo ao gelo
Que dará o acompanhamento aos passos arrastados,
Todos os dias a nudez fantasmagórica das bétulas
Me relembram a imagem que o espelho me cospe na cara,
Acumulamos tanto no que somos, para depois
Não termos força suficiente para tanta ausência,
Mais um verso não vem acrescentar nada mais
Que um vazio que ficou por não ser, dito nele mesmo,
Tocam-se com olhares quase vegetais, os que passam,
Tão anónimos que quase não existem verdadeiramente,
Nem um cheiro desperta as rupestres recordações,
Verões que como sonhos que se trazem ainda meio
Agarrados quando se acorda e se dá conta, uma vez mais,
Da pedra no sapato, da evidência estranguladora do hoje,
Só o cabelo cresce inversamente proporcional
Às possibilidades e brancos são os sonhos,
Como o futuro dos amigos que partiram para sempre.
Turku
18/12/2023
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