quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

 

Pedra no Sapato

 

Todas as manhãs acordo com uma pedra no sapato,

Com a boca seca de sonhos, no quarto um cheiro

Defunto das glórias que deixaram de ser minhas,

Uma sombra constante, dando a cor de perigo ao gelo

Que dará o acompanhamento aos passos arrastados,

Todos os dias a nudez fantasmagórica das bétulas

Me relembram a imagem que o espelho me cospe na cara,

Acumulamos tanto no que somos, para depois

Não termos força suficiente para tanta ausência,

Mais um verso não vem acrescentar nada mais

Que um vazio que ficou por não ser, dito nele mesmo,

Tocam-se com olhares quase vegetais, os que passam,

Tão anónimos que quase não existem verdadeiramente,

Nem um cheiro desperta as rupestres recordações,

Verões que como sonhos que se trazem ainda meio

Agarrados quando se acorda e se dá conta, uma vez mais,

Da pedra no sapato, da evidência estranguladora do hoje,

Só o cabelo cresce inversamente proporcional

Às possibilidades e brancos são os sonhos,

Como o futuro dos amigos que partiram para sempre.

 

Turku

 

18/12/2023

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