quarta-feira, 8 de outubro de 2025

 


Prece Nocturna

 

Que estrelas faltarão ao céu nocturno,

Quando de mim não restar mais nada

A não ser tu, que humanidade a dos homens

Do futuro, depois de todos os pecados cometidos

Serem perdoados pelo brilho baço da extinção

E do ouro, virão dias frescos e limpos

Como na minha longínqua primavera,

Espero melhoras, não me custe tanto o peso

Das estrelas que não verei, nem a maior victoria

Para uma responsabilidade que ecoará

Após o pó soprado do último dente.

 

Hidra

 

28/09/2025

 

João Bosco da Silva

terça-feira, 7 de outubro de 2025

 




No Museu

 

Olhando esses dentes, ainda tão dentes,

Brancos como a eternidade, tu tão pequenina,

Cabeça virada para a direita, para sempre,

Coberta de adornos, foste amada, pelo menos

Na tua morte, quem te terá trazido aqui minha pequena,

Exposto os ossos à curiosidade de um futuro alheio,

Longínquo, que nunca poderia ter sido teu,

O que terão mordido esses pequenos dentes,

O que te trouxe aqui minha pequena,

Ao silêncio de tantos olhos, que em ti vêem

O reflexo da sua própria humanidade,

Curta foi a tua vida, longo tem sido o teu sono.

 

26/09/2025

 

Hidra

 

João Bosco da Silva

 



Ao Ritmo de Leonard Cohen

 

As varandas da juventude, com vista para antigas capitais,

A verdade absoluta do teu desejo no meu colo,

Uma revelação em forma de saia levantada a Junho,

Ser jovem e fazer do ventre estrangeiro a casa de nostalgias futuras,

O desejo é mais sincero e breve que o amor, ecoa sem medo,

Como a Lua cheia atravessa as folhas douradas do devir cansaço,

Sente-se tanto quando ainda se viveu tão pouco.

 

Turku

 

06.10.2025

 

João Bosco da Silva