Um Poema Para Levar
As pirâmides já não interessam porque os deuses morreram e a língua deles também.
Hoje se nevar é porque a felicidade existirá em flocos lentos e frios, brancos e puros.
Partem os barcos sem velas em busca de se encontrarem
Algures no deserto, mas as mãos cansadas e gretadas, pesadas dos calos do trabalho,
Caiem no colo resignado junto de uma lareira apagada.
Onde estive, por onde andei, o que fiz de mim?
Pergunta a lenha que crepita no fim de uma noite pagã.
Fui moda, fui grande, cheguei longe e agora aqui, isto e velho.
As luzes quase apagadas no meio da escuridão de uma noite solitária.
Só não há noites solitárias quando se está em alguém,
Se sente o ouvido de alguém sobre o peito
E o coração a contar-lhe o segredo de estarmos vivos.
Os deuses morreram, ficaram os monumentos que não interessam,
Só a gente e ignoram-se, passam e nem se deixam ser nos outros.
Anos e anos a viver na mesma rua sem se conhecer as linhas das mãos
E a morte já é certa ainda antes de os olhos nos chorarem pela primeira vez.
08.11.2010
Londres
João Bosco da Silva
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