domingo, 14 de novembro de 2010



Um Poema Para Levar


As pirâmides já não interessam porque os deuses morreram e a língua deles também.

Hoje se nevar é porque a felicidade existirá em flocos lentos e frios, brancos e puros.

Partem os barcos sem velas em busca de se encontrarem

Algures no deserto, mas as mãos cansadas e gretadas, pesadas dos calos do trabalho,

Caiem no colo resignado junto de uma lareira apagada.

Onde estive, por onde andei, o que fiz de mim?

Pergunta a lenha que crepita no fim de uma noite pagã.

Fui moda, fui grande, cheguei longe e agora aqui, isto e velho.

As luzes quase apagadas no meio da escuridão de uma noite solitária.

Só não há noites solitárias quando se está em alguém,

Se sente o ouvido de alguém sobre o peito

E o coração a contar-lhe o segredo de estarmos vivos.

Os deuses morreram, ficaram os monumentos que não interessam,

Só a gente e ignoram-se, passam e nem se deixam ser nos outros.

Anos e anos a viver na mesma rua sem se conhecer as linhas das mãos

E a morte já é certa ainda antes de os olhos nos chorarem pela primeira vez.



08.11.2010


Londres


João Bosco da Silva

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