domingo, 14 de novembro de 2010



Taylor Walker


Since 1730


Tudo me parece igual e sabe a fome

Às treze numa cidade desconhecida, tão conhecida.

A velhinha de cabelo invariavelmente branco deixa no marco vermelho

Um pouco de saudades e chove dentro da gente.

Aqui também são os melhores do Mundo.

Quem não o é? Quantos génios e não génios e gente que faz o mundo,

Atravessaram e atravessam a rua além deste vidro,

Quase eu, um restaurante numa esquina de uma rua qualquer,

Numa cidade igual a todas as outras.

A loira bebe o seu café de pé à espera do autocarro e olha-me azul,

Eu respondo-lhe com um verde melancólico.

Afinal nunca cá tinha estado e não sinto o sorriso que o ébrio leva.

Pede-se um copo já morto e a vida toda nele que se bebe

E a razão disto é cada golo fresco.

A vida é ter sede, mas o que fazer quando cada trago sabe ao mesmo?

Os muros são feitos de paciência e hoje morrerão tantos aqui.

Acende-se mentalmente um cigarro enquanto o prato não vem,

Para me distrair das línguas que tento adivinhar de que lugar,

De que gentes iguais neste canto do mundo onde eu estou sempre,

Mesmo que seja a primeira vez.

Que estaria Byron a fazer a esta hora num dia como os outros?

O chão é sempre sujo se os olhos caminham atrás de cada passo,

A gente é sempre feia se for vista de demasiado perto

E eu estarei condenado a este restaurante, a ver o Mundo sempre o mesmo,

Desta janela que me diz “Sunday Roasts Served Traditionally Every Sunday from 12-10”,

Tão baixo que quase não ouço quando passam umas calças pretas

Que me despertam a alma fálica.

São sempre as mesmas e entra-se sempre, é uma questão de distância

E a gente passa ao lado além deste vidro.

Eu sentado como um deus impotente, o único possível em todo lado.

Passaria por aqui Rimbaud, tão grande e jovem a iluminar

A escuridão das ruas do passado que ainda estão?

Apago as palavras que a rua espera mais um.



08.11.2010


Londres


João Bosco da Silva

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