Taylor Walker
Since 1730
Tudo me parece igual e sabe a fome
Às treze numa cidade desconhecida, tão conhecida.
A velhinha de cabelo invariavelmente branco deixa no marco vermelho
Um pouco de saudades e chove dentro da gente.
Aqui também são os melhores do Mundo.
Quem não o é? Quantos génios e não génios e gente que faz o mundo,
Atravessaram e atravessam a rua além deste vidro,
Quase eu, um restaurante numa esquina de uma rua qualquer,
Numa cidade igual a todas as outras.
A loira bebe o seu café de pé à espera do autocarro e olha-me azul,
Eu respondo-lhe com um verde melancólico.
Afinal nunca cá tinha estado e não sinto o sorriso que o ébrio leva.
Pede-se um copo já morto e a vida toda nele que se bebe
E a razão disto é cada golo fresco.
A vida é ter sede, mas o que fazer quando cada trago sabe ao mesmo?
Os muros são feitos de paciência e hoje morrerão tantos aqui.
Acende-se mentalmente um cigarro enquanto o prato não vem,
Para me distrair das línguas que tento adivinhar de que lugar,
De que gentes iguais neste canto do mundo onde eu estou sempre,
Mesmo que seja a primeira vez.
Que estaria Byron a fazer a esta hora num dia como os outros?
O chão é sempre sujo se os olhos caminham atrás de cada passo,
A gente é sempre feia se for vista de demasiado perto
E eu estarei condenado a este restaurante, a ver o Mundo sempre o mesmo,
Desta janela que me diz “Sunday Roasts Served Traditionally Every Sunday from 12-10”,
Tão baixo que quase não ouço quando passam umas calças pretas
Que me despertam a alma fálica.
São sempre as mesmas e entra-se sempre, é uma questão de distância
E a gente passa ao lado além deste vidro.
Eu sentado como um deus impotente, o único possível em todo lado.
Passaria por aqui Rimbaud, tão grande e jovem a iluminar
A escuridão das ruas do passado que ainda estão?
Apago as palavras que a rua espera mais um.
08.11.2010
Londres
João Bosco da Silva
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