Caminhando Em Direcção
para o Daniel Felgueiras,
E vamos lá, que já é tarde e o café está quase a fechar e depois o fim do mundo e a filha da minha vizinha
Já a limpar-se com o lenço de papel com aquele bandalho a sair-lhe entre as pernas,
Com o fim cada vez mais próximo e o sentido desta merda toda cada vez mais longe.
Hoje ladram, ladram-me de perto a pedir dedos e línguas no adro da catedral de um cidade, cujo nome
Nem o meu avô, quanto mais o país, mas vamos lá, que a garrafa vai a meio e devem haver ruivas,
Há sempre ruivas para tonificar a ilusão de algo mágico, mas a luz apaga-se e pele é toda a mesma,
Da cor da humidade na pele da pele e a pele nem é minha às vezes e estranha-se isso,
Porque eu tenho dezasseis anos antes do primeiro toque da minha língua na amiga da amiga da minha irmã,
Mas já está e ela à volta do que cresci até hoje e hoje nem perto do que fui, nem um universo de miúdas
Me tornará feliz, porque é certo este descontentamento doentio com as paredes dos bicos a tornar
Palavras um dia verdadeiras, quase ridículas com tanta hipocrisia, e muitos perguntam,
Onde andará aquele, e vós pedaços de merda degenerados, que mesmo na vossa terra estais tão longe,
Ao menos aqui, um ventil nos queixos, uma saudade no coração que mesmo vazio e frio sente
Quem está longe e esquecido de quem nunca se esquecerá, porque sou todos os que me foram na vida
Que passou, mas a vida não passou, eu cá estou a ser quem o esquecimento levou para um fingimento melhor,
Enquanto o morrão cresce e o copo se torna como eu, mais vazio, com menos sentido no gesto que leva
À perdição de uma alma perdida em corpos que não mereceram o corpo da alma
E é destas merdas que surge um poema: uma mão cheia de ressentimento, um cigarro noutra
Depois de um incêndio (nada interno) que ainda se sente, umas garrafas vazias, mas não perdidas
E uma saudade de tudo o que falta e é sempre tanto o que falta enquanto se caminha em direcção do infinito.
02.09.2011 01:12am
Turku
João Bosco da Silva
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