terça-feira, 15 de novembro de 2011


Contrabandista De Sonhos



Aquele café nos sonhos, fechado em mil novecentos e noventa e um, ano da morte

De muitos Morfeus, as portas escancaradas, o cheiro a violação, teias de aranha e merda

De gente, seca, as grades de seven-up, estranhamente conservadas, cheias, como só num sonho,

E o prazo de validade a torná-las inúteis, como os itinerários principais tornaram inúteis

Tantas estalagens e restaurantes, como este café de sonhos, à beira de uma estrada nacional

Onde cresce musgo nas paredes e só na vida vive a vida daquele lugar, nas recordações,

Apesar do lugar nunca antes visto, uma colagem, com um estranho sentido erótico,

Como se mais acima, fosse a loja da coleguinha loira da fila da frente na primeira classe,

Com o lápis roído que às escondidas também eu metia na boca e imaginava a sua língua

Na minha, os seus dentes nos meus lábios, o seu hálito de pequeno-almoço na minha fome,

Penso que se chamava Dárida e hoje em dia, sonho-a em forma de café abandonado,

Porque o pai a deixou, não me lembro por que razão e a mãe sofria de histeria e abandono,

Num canto húmido de uma aldeia em decadência do norte, junto à fronteira dos sonhos

Contrabandeados, hoje tudo da mesma massa do impossível, nos olhos fechados de quem

Queria ser guarda-fiscal, quando fosse grande, afinal mais um contrabandista de gabardine preta.





15.11.2011




Turku




João Bosco da Silva

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