Contrabandista De Sonhos
Aquele café nos sonhos, fechado em mil novecentos e noventa e um, ano da morte
De muitos Morfeus, as portas escancaradas, o cheiro a violação, teias de aranha e merda
De gente, seca, as grades de seven-up, estranhamente conservadas, cheias, como só num sonho,
E o prazo de validade a torná-las inúteis, como os itinerários principais tornaram inúteis
Tantas estalagens e restaurantes, como este café de sonhos, à beira de uma estrada nacional
Onde cresce musgo nas paredes e só na vida vive a vida daquele lugar, nas recordações,
Apesar do lugar nunca antes visto, uma colagem, com um estranho sentido erótico,
Como se mais acima, fosse a loja da coleguinha loira da fila da frente na primeira classe,
Com o lápis roído que às escondidas também eu metia na boca e imaginava a sua língua
Na minha, os seus dentes nos meus lábios, o seu hálito de pequeno-almoço na minha fome,
Penso que se chamava Dárida e hoje em dia, sonho-a em forma de café abandonado,
Porque o pai a deixou, não me lembro por que razão e a mãe sofria de histeria e abandono,
Num canto húmido de uma aldeia em decadência do norte, junto à fronteira dos sonhos
Contrabandeados, hoje tudo da mesma massa do impossível, nos olhos fechados de quem
Queria ser guarda-fiscal, quando fosse grande, afinal mais um contrabandista de gabardine preta.
15.11.2011
Turku
João Bosco da Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário