O Sabor Rosado Dos Teus Lábios
Não é possível esquecer o sabor rosado dos teus lábios quentes, aqui onde o inferno arrefece
E as portas fingem uma ferrugem impiedosa e sem consideração pelo esforço dos anos
A ser carne, papilas gustativas, pupilas que ardem no reflexo de uma noite de inverno com velas
E o cheiro do azeite queimado de outros tempos. Tudo o resto, restos que não valem a pena,
Além das tuas virilhas onde o futuro se aquece, além dos meus pêlos a fazer com que os teus
Joelhos com vontade um do outro, além do fogo-de-artifício que se sentiu à volta da vontade,
Até a vontade arrefecer e se escoar como o gesto de quem pendura o avental, deixa os
Fabricantes de antepassados cair num último refluxo sanitário e nem a noite foi possível
Se ao acordar, a cama vazia e o teu corpo ainda tão presente nos poros da solidão
Das estrelas nos descampados de verão. A erecção a tornar tudo o mesmo, nomes diferentes,
Mãos desconhecidas que a apertam, os teus lábios também outras palavras, murmúrios
Estrangeiros para o mesmo resultado, uma necessidade de gritar que mais uma vez
Te procurei nos lábios de alguém que não tu, beijos desperdiçados e nem tu os teus
Lábios, nunca mais, não os que com um sabor rosado, são impossíveis de apagar
Das memórias tatuadas com unhas e secreções de orgasmos. Não ligues se alguém te
Aconchegar nas mantas enquanto sonhas, volta a fechar os olhos, passa a mão pelo trigo
Maduro, a cor do teu cabelo ainda me prende, mas ignora, passo como tudo o que levo,
O sabor rosado dos teus lábios quentes, o aconchego suave do teu púbis depilado
Enquanto a noite se torna numa embriaguez em forma de sonho que se consome em chamas.
14.11.2011
Turku
João Bosco da Silva
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