Ensinar A
Andar De Bicicleta
Sabe andar
de bicicleta, mas não se lembra quem lhe levava a mão no celim até
Encontrar
equilíbrio, e depois corria ao seu lado para a levantar do chão logo depois da
Quase queda
ou queda, necessária e esperada, só assim se aprende, a andar de bicicleta,
Mas não se
lembra que foi na minha que aprendeu, no caminho de terra que me abriu a carne
Um dia e pó
e sangue, não se deve lembrar das cerejas em flor nem do cheiro a verde fresco
Dos lameiros
húmidos à volta do caminho, o céu azul como o futuro que os olhos acreditavam
Alcançar,
amanhã e chegava, no fundo não interessa, ela sabe andar de bicicleta e eu
enferrujo,
Ao lado da bicicleta,
velha, atirada a um barranco que não sei onde, uma memória abandonada,
As cerejeiras,
algumas, já devem ter secado, nos lameiros a erva cresce e não há quem tenha
animais
Para pastar
tanto verde, um verde que parece mais escuro, no poço as rãs desistiram de
provocar
As crianças
e tornaram-se seixos, ou um pedaço de sabão azul que alguém deixou ao Sol
E à chuva, a
ser uma memória que se gasta com o tempo e perde a forma original,
Mas que continua
a poder lavar, as mãos de quem precise da sua espuma, e na vida, tudo o resto
Ensinar
alguém a andar de bicicleta, cada novo gesto um ensinamento, cada beijo, cada
abraço,
Cada toque,
um pouco mais que se leva, e na ilusão de quem dá, fica sempre a esperança
De que ele
também, ele a latejar no pouco que se deixa, no pouco onde se foi todo, tudo e
se esquece,
Com a
negligência inocente das crianças, e o caminho talvez se lembre, de um rapaz a
correr
Ao lado de
alguém que encontra o equilíbrio, em cima de uma bicicleta, pela primeira vez,
para sempre.
14.10.2012
João Bosco
da Silva
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