Epifania Na
Aurora Do Fim ou Este Amor Que Me Minto
Este amor
que me minto, como se fosse a última oportunidade de redimir todos os
fracassos,
Neste que se
prepara para me esmagar como todas as ilusões anteriores, como aquela
Mensagem,
depois do poema de Caeiro, à minha namorada, perguntava ele, a nossa Sofia
dizia ela
Imaginando
nos meus sonhos uma casa rural, onde todos os livros que lemos e queríamos ler,
E nós velhos
e sábios, com todas as respostas às questões que nasceram sobre as mesas
daqueles
Cafés da
invicta, a cor do seu cabelo a mesma que esta mentira, que rasgo na pele,
Como se isso
a tornasse verdadeiramente sentida, como se podem vestir com os mesmos sonhos,
Se esses
sonhos apodrecidos, perdidos, esquecidos nos olhos semicerrados ao parecer que
a felicidade,
Mas só a luz
da ilusão, ao acordar de um sono demasiado longo, onde a carne em excesso
Fez esquecer
o valor das ideias, mas as ideias mentiras, como este amor uma ideia,
Que escrevo
em diferentes papéis e assino com diferentes nomes, só a cor do cabelo a mesma,
Entretanto
foram lidos outros livros, e a dor que ficou a latejar nos lábios, deixou de se
sentir
Por debaixo
de outros beijos, todos diferentes, mas as mamas também as mesmas, que a minha
Negligência
perdeu, depois de ter vencido a precocidade de um casamento, nas minhas patas
De cão
danado, demasiado pequenas para todo o desejo rosado, contra o seu carro velho,
à beira
De uma seara
de trigo, eu todo tesão e a cegueira de um cérebro afogado em serotonina,
Usando
aquele nome que era rodeado por um coração estilizado nas capas dos cadernos
Do sexto
ano, como uma masturbação assistida, és o meu segundo, só o meu marido,
E eu com a
emoção de uma erecção ao acordar e ela a acreditar que eu mais que esperma
A escorrer
dela manchando os bancos de trás, as mesmas mamas contra o meu peito na
Canícula de
Agosto, e eu entre as cuequinhas vermelhas dela, que se abrem à frente
E ela
impossivelmente húmida naquele calor seco de brisas amarelas, estou tão
molhada,
Não
acreditando nela própria nem nos meus dedos cheios dela na sua boca, anda já,
E
surpreendo-me sempre que me empurram para dentro do seu cu e me esmagam com a
vontade
E amo essa
mentira, quando me exigem esperma, quero que te venhas na minha boca, ou
Nem me
permitem outra opção e drenam-me, demasiados nomes para caberem numa só
palavra,
Este amor
por retalhos que encontro todos numa única mentira, onde dou os nós que dei
A todos os
fracassos, cujos nomes procuro na carne anónima de mais uma noite demasiado
fria,
Gostas de me
sentir molhada, já nem sei de quem a voz, ecos, procuro encontrar aquela mulher
feita
De palavras
e que faz nascer poetas e depravados, que vão dar ao mesmo, procuro dar-lhe
Carne
E minto-me
nessa carne, dou-lhe o nome que só dentro lhe grito e ignoro a verdadeira cor
Dos seus
olhos até me aliviar do desespero de nunca encontrar nada mais do que mentiras
Que me
minto, que me faço acreditar como verdades, e provavelmente esta lucidez é
Consequência
do sono de anos, do cansaço que não permite asas à imaginação,
São epifanias
assim que nos protegem das cordas de estender a roupa e nos trazem o sangue
À carne, à
carne que sacode todos os sentimentos, tudo que não lhe saiba a metal, ou sal,
ou
Algo
verdadeiro e frio, são epifanias assim que nos matam velhos, secos e amargos,
Um dia
acordarei e não conseguirei encontrar-lhe o nome e então direi apenas, amor.
16.11.2012
Turku
João Bosco
da Silva
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