Parar Para
Vomitar
Once I was
lost and now I´m nothing.
Tenho cinco
anos e a 4l à beira da estrada, os carros são só um som e um rasto de cor,
As memórias
que um dia terei, e que tornarão as mãos que as criaram, ridículas e inúteis,
Qualquer
coisa como um rio, ali perto, em frente a ponte que atravessarei e para lá dela
Mais estrada,
juncos, como os do lameiro do meu avô, mas o ar cheira a pocilgas,
Vomito no
charco, e vejo-me refletido, eu todo, o pequeno-almoço, Cerelac, mas eu,
De outra
cor, e tenho cinco anos, vomito em cima dos agriões, e vejo-me, exposto,
Isto eu,
pergunto-me confuso, entre a má disposição e o espanto, os carros continuam
A ecoar um
atrás do outro, olho as mãos, sempre me parecerão do mesmo tamanho,
Também eu,
limpo a boca e olho para a minha mãe, que me aconteceu, perguntam os meus
olhos,
Esses cada
vez mais pequenos, eu ali, no charco, eu as minhas mãos, eu nos olhos da minha
mãe
Que me dizem,
meu menino, a segurar-me na mão, a levar-me para junto da 4l, um copo de Jói maracujá,
Ainda
fresco, bebe, tens sedinha meu menino, e eu não sei bem o que tenho, tinha-me
E isso é tão
estranho, sinto-me e neste momento preferia não sentir nada, vontade de sair
De mim, eu
ali atrás, naquele charco, entre juncos e longe o lameiro do mau avô, o mundo
Tão grande,
tão estranho e eu sempre num lugar, só um, a estrada, o sumo demasiado doce,
Mas fresco,
eu tão eu, menos tudo o que me fará hoje eu, todas as memórias, todas as
derrotas,
Todas as
vezes que me verti, em charcos, em gente, em sonhos que acabei por ser obrigado
A esquecer,
crescer é tornar-se cada vez menos com tudo o que não nos é dentro, cada vez
mais
Cheios, cada
vez mais vazios de nós, e eu só sede, sede de me perder, de engolir o estranho
O demasiado
doce, pela estrada fora, a caminho dos lameiros do meu avô, cinco anos,
A porta da
4l fecha-se, mais um rasto de cor a espalhar som pela estrada fora e eu menos
eu.
24.11.2012
Turku
João Bosco
da Silva
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