Não
Pertences Aqui
Aproximo-me
da pista de dança e páro a uma distância segura, com a mão cheia de garrafa
Engulo com
vontade o desespero e a solidão insensível que dança e transpira e espera e
quer carne,
Leite e
urina, vejo um par de vinte e um anos, olham para mim, ou as luzes a fazerem-me
ver
Olhares onde
todos cegos às apalpadelas, uma empurra a outra, a loira a ruiva, a ruiva a
loira,
Vamos, tu
não pertences aqui, quase me pára o gole que baixava, quem pertence aqui,
engulo
Por fim, ao
mesmo tempo que alguém é atingido na garganta por uma ejaculação, fruto de um
broche
Daqueles sem
nome, na casa de banho, és diferente, está bem e vós sois iguais, uma loira e
outra ruiva,
Da capital, dizem-me, da vossa capital, afinal de perto, a dois dedos de conversa a cópula
nos
Bancos de
trás de uma delas, enquanto a outra finge dormitar no banco da frente, começo a
achar
Que isto de
ser poeta começa a escrever-se pelos poros, os versos lêem-se na forma como
levo a garrafa
Aos lábios e
o conteúdo adivinha-se no olhar redutor, decompositor, que transforma um ramo
De flores em
estrume, não pertences aqui e vejo-me numa canção escrita numa casa de banho,
“Não
pertenço aqui”, vejo-me no balanço de Ian Curtis a secar a roupa na cozinha,
com ela vestida,
Não pertences
aqui e invejo a utilidade de um cão guia, queres vir fumar comigo, a loira tão
Pequenina,
frágil e fascinada por sexo e barba a arranhar a sua fragilidade rosada, costumava
Dizer que
preferia as ruivas, já não fumo, mas também não pertenço aqui, vamos lá.
20.07.2012
Turku
João Bosco
da Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário