Fruta
Favorita II
É como se o
sol se tornasse vermelho, um calor pequenino no frio que quer tornar-se dono
dos dias,
Morde-se a
pele grossa, arranca-se um pedaço amargo como quem despe as evidências que se
Impõem à
verdade que se esconde dentro, tenta-se abrir, mas a forma não permite
facilidades,
Arranca-se
mais um pouco de amargura, fragiliza-se a resistência enquanto se fazem caretas
Pelo esforço,
mas não interessa, valerá a pena, outra tentativa, ambas as mãos, uma para cada
lado,
Para revelar
o centro, por fim cede, abre-se em duas, o sumo doce torna o olho ácido,
limpa-se
E já vem com
a companhia de umas lágrimas, revelam-se os rubis, geometricamente alinhados
E dispostos,
impossivelmente a forma que são por fora, brilhantes, tensos, a explodir de
doçura
Encarnada,
envolvidos por uma fina pele, mais um pouco de amargura, os dedos já negros,
Peganhentos,
e começa então o jogo de paciência, cuidadosamente, levanta-se o véu amarelo
Que envolve
a deliciosa recompensa, e com os dedos, removem-se as joias incrustadas, pouco
a pouco,
Com suavidade,
uma de cada vez se for necessário, aqueles deliciosos botões prontos a explodir
Na língua,
com a pressa de um ourives a criar tempo, despe-se mais um lado, e como a sede
Daquele brilho
é tanta, antecipam-se umas dentadas delicadas, chupa-se o excesso de força
Que envolve
a boca de luxúria, daquela que não se confessa a nenhum padre, e continua-se,
Até se
chegar aos últimos grãos, à última pirâmide e aí, sem medo, trinca-se com
vontade
E sente-se o
prazer crocante entre os dentes, sorve-se o sumo que fica na palidez, tão nua,
Pegam-se nos
grão todos e comem-se às colheres cheias, como pequenos momentos,
Frutos da
paciência, da perseverança, sem importarem os dedos negros, o amargo, a acidez
nos olhos,
Porque no
fim, todos os momentos escarlates valeram a pena, porque no fim a recompensa
É um prato
cheio de doçura quente e húmida, gosto das mulheres assim, como as romãs.
12.11.2012
Turku
João Bosco
da Silva
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