Arcade
Ela engole e
diz que vai para o Inferno, com o sorriso de uma menina travessa que acabou
De arrancar
a cabeça à boneca favorita da amiga, as mãos ainda abertas nas minhas nádegas
E eu
arrependido da moeda que acabei de perder garganta abaixo, game over, quer se
acabe
O jogo todo
ou não, sempre a mesma coisa, mas o que nos faz perder mais uma moeda é
O desejo de
chegar ao fim, passando por tudo, sobreviver a tudo menos à inevitabilidade,
Não deixar
nada por fazer, por dizer, por ver e assim se joga arcade num moleskine,
Desenhando com
palavras os olhos de fogo inocente, ajoelhados no chão sujo, rasgando as
Meias como
quem abre as nádegas com as mãos e espera uma bênção que livre do tédio,
Com o futuro
acabado antes de chegar, a morrer nos sucos gástricos, a implorar, play again,
Eu a
procurar uma última moeda nos bolsos e, não chega, não chega mas ela empurra
A promessa
de um extra crédito para dentro da sua boca quente, outra vez, que fome esta
E deixo cair
mais uma moeda que não existia nos bolsos sempre vazios de esperança,
Na perdição
onde me encontro por momentos, onde moramos no momento antes de adormecer,
Ignorando a
certeza única do game over, mas a vida é enquanto nos for dada a oportunidade
De continuar
a errar, de escolher perder ou não mais uma moeda, sabendo que também
Elas têm o
tempo contado, os miúdos ao meu lado batem recordes e eu digo-lhes
Num diálogo
de insónia, estive aí, não fiz isso, mas chegarei lá, game over.
Naantali SPA
07.12.2012
João Bosco
da Silva
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