Não Sei Para Que Me Morreste Porque É Inútil
para o meu avô,
Não sei para que me morreste, mas também nunca percebi a
morte, ou a vida, para quê uma se
A outra está para reduzir tudo a nada, nem cinzas, e os
ossos anónimos não fosse o nome sobre
O qual as lágrimas dos que ficaram a ser menos e cada vez
menos, não sei para que me morreste,
A égua já deve estranhar a tua ausência, porque hoje não é
Domingo e tu de gravata, deitado, a estas
Horas, sem teres bebido gota de vinho e quero acreditar que
por isso tão sossegado, não sei onde
Irei depois da festa do Verão amanhecer, agora que a carroça
ficará de pernas para o ar e a madeira
Desistirá e cederá todos os anos que aguentou, ao caruncho e
os melões ficarão a apodrecer, a vinha
Morrerá de sede do teu suor e o teu vinho não voltará a
encher aquela caneca que parecia ir ficar
Pela eternidade fora em cima da lareira, do teu lado pelas
noites frias fora, dos rigorosos Invernos
Da terra esquecida pelo país a que dizem que pertence, não
sei para que me morreste, mas desculpa
Contrariar-te e roubar um pouco de ti que guardarei até eu
morrer para os outros, podes fechar os
Olhos, podes não voltar a contar-me com orgulho a história
do jogo da sardinha, que fui eu
Que escrevi nos teus olhos que não sabiam ler, junto à mesma
lareira, podes não voltar a fazer batota
Na bisca dos nove, podes esquecer-te de mim, obrigado, eu
sei como funcionam as sinapses e é
Na sua união que vive a alma, podes morrer-me, mas
prometo-te e que me desculpe a morte,
Que os raios partam, que nunca te deixarei morrer de todo,
não enquanto nas minhas veias correr
O teu sangue, não enquanto o dia me permitir acordar e ter
saudades tuas, sentado debaixo daquela
Macieira, enquanto as vacas pastavam, com um pedaço de
cortiça e uma faca nas mãos,
Com o teu ar de eternidade, as tuas mãos de raíz de
castanheiro e cepa e da cortiça dois
Bois e eu convencido que era o neto de um deus real, por
isso perdoo o teu coração humano, cansado
Pelos anos, calejado pelos dias, não sei para que me
morreste, porque é inútil, nunca me morrerás.
Turku
02.03.2013
João Bosco da Silva
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